Os Maias


Os Maias é uma das obras mais conhecidas do escritor português Eça de Queiroz. O livro foi publicado no Porto em 1888. A acção de Os Maias passa-se em Lisboa, na segunda metade do século XIX, e apresenta-nos a história de três gerações da família Maia. A acção iniciou-se no Outono de 1875, quando Afonso da Maia, nobre e pobre proprietário, se instalou no Ramalhete com o neto recém-formado em Medicina. Neste momento faz-se uma longa descrição da casa - "O Ramalhete", cujo nome tem origem num painel de azulejos com um ramo de girassóis, e não em algo fresco ou campestre, tal como o nome nos remete a pensar. Afonso da Maia era o personagem mais simpático do romance e aquele que o autor mais valorizava, pois não se ele se conhecesse. É um homem de caráter, culto e requintado nos gostos. Em jovem aderiu aos ideais do Liberalismo e foi obrigado, por seu pai, a sair de casa e a instalar-se na Inglaterra. Após o pai falecer regressa a Lisboa para casar com Maria Eduarda Runa, mas  pouco tempo depois escolhe o exílio por razões de ordem política. Há em Os Maias um retrato da Lisboa da época. Carlos, que mora na Rua das Janelas Verdes, caminha com frequência até ao Rossio (embora, por vezes, vá a cavalo ou de carruagem). Algumas das lojas citadas no livro ainda existem - a Casa Havaneza, no Chiado, por exemplo. É possível seguir os diferentes percursos de Carlos ou do Ega pelas ruas da Baixa lisboeta, ainda que alguns tenham mudado de nome. No final do livro, quando Carlos volta a Lisboa muitos anos depois, somos levados a ver as novidades - a Avenida da Liberdade, que substituiu o Passeio Público, e que é descrita como uma coisa nova, e feia pela sua novidade, exactamente como nos anos 70 se conhecia das casas de emigrante. O romance veiculado sobre o país é uma perspectiva muito derrotista, muito pessimista. Tirando a natureza (o Tejo, Sintra, Santa Olávia...), é tudo uma choldra ignóbil. Predomina uma visão de estrangeirado, de quem só valoriza as civilizações superiores - da França e da Inglaterra, principalmente. Os políticos são mesquinhos, ignorantes ou corruptos (Gouvarinho, Sousa Neto...); os homens das Letras são boémios e dissolutos, retrógrados ou distantes da realidade concreta (Alencar, Ega...: lembre-se o que se passou no Sarau do Teatro da Trindade); os jornalistas boémios e venais (Palma...); os homens do esporte não conseguiram organizar uma corrida de cavalos, pois não há hipódromo à altura, nem cavalos, nem cavaleiros, as pessoas não vestem como o evento luxuoso, as senhoras trazem vestidos de missa. Para além de tudo isto, os protagonistas acabam vencidos da vida. Apesar de ser isto referido no fim do livro, pode-se ver que ainda há alguma esperança nunca implícita, nas passagens em que Carlos da Maia e João da Ega dizem que o apetite humano é a causa de todos os seus problemas e que portanto mais têm apetites, mas logo a seguir dizem que lhes está a apetecer um "prato de paio com ervilhas," ou quando dizem que a pressa não leva a nada e que a vida deve ser levada com calma mas inicialmente a correr para apanhar o americano ( elétrica). Mais do que crítica de costumes, o romance mostra-nos um país - sobretudo Lisboa - que se dissolve, incapaz de se regenerar. Quando o autor escreve mais tarde A Cidade e as Serras , expõe uma atitude muito mais construtiva: o protagonista regenera-se pela descoberta das raízes rurais ancestrais não atingidas pela manipulação da civilização, num movimento inverso ao que predomina n'Os Maias .

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